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Planos de saúde devem limitar redes e elevar preços


17/04/2023

 Amargando prejuízo operacional de R$ 10,9 bilhões no ano de 2022 até setembro — último dado disponível na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) —, os planos de saúde estão passando um pente-fino nas contas. Pressionadas pelo aumento de consultas, exames e procedimentos feitos pelos segurados (em parte por causa do represamento imposto pela pandemia) e pela dificuldade de repassar essa alta nos custos às mensalidades, as operadoras olham com lupa as faturas para identificar cobranças duplicadas e fraudes. Também negociam com laboratórios e hospitais em busca de ampliação de prazos nos pagamentos e descontos nos preços contratados, com reduções que podem chegar a 30%.

 
Para o consumidor, a movimentação prenuncia reajustes maiores este ano nos planos coletivos, que concentram mais de 80% dos usuários da saúde suplementar, e limitações na rede credenciada.
 
A tendência é de oferta de planos mais enxutos, com coberturas regionais, redes mais restritas e com orientação de acesso pelo atendimento primário. Ou seja, uma estrutura na qual um clínico geral ou médico de família orientará o usuário sobre a necessidade de serviços especializados, como ocorre no SUS. O objetivo é reduzir desperdícios, facilitando a gestão da saúde do usuário para não pesar ainda mais nas mensalidades. Mas inevitavelmente isso trará como consequência menor liberdade de escolha no atendimento.
 
 
— No ano passado a média de reajuste dos planos coletivos ficou mais baixa que a dos planos individuais: 11% ante 15%. Não foi só o aumento de uso que impactou o custo, mas a impossibilidade de recompor a margem (de lucro). Este ano, não se surpreenda se grandes contratos corporativos não forem renovados. As empresas não têm mais como operar no negativo e terão que fazer reajustes mais fortes, recompor suas margens, mesmo que isso signifique reduzir o número de clientes — diz Renato Casorotti, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).
 
Ele lembra que apesar do crescimento da base de usuários da saúde suplementar, que em 2022 voltou ao patamar de 50 milhões, esse aumento se deu com os planos mais baratos:
 
— Ou seja, não levou a um crescimento proporcional da receita para fazer frente ao aumento de custo.
 
 
O aperto nas contas das operadoras pressiona o caixa de laboratórios e hospitais, principalmente os de pequeno e médio porte. Convênios respondem por mais de 90% da receita das empresas de medicina diagnóstica e superam 80% nos hospitais de grande porte.
 
— A lei estabelece reajustes anuais dos prestadores ao fim do primeiro trimestre como forma de manter a qualidade do serviço. E o que estamos vendo nesses últimos meses é uma acentuação de negociações de descontos sobre preços já contratados — diz Wilson Shcolnick, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), que reúne laboratórios.
 
A Abramge diz que o prazo médio de pagamento do setor está em 44 dias. Os laboratórios informam média próxima de 60 dias. No caso dos hospitais, o prazo passou dos 70 dias em 2022. Os dois segmentos também estão pressionados pelo aumento do custo de insumos e da mão de obra — ainda se busca equacionar o novo piso de enfermagem.
 
 
Além disso, assim como aconteceu com as operadoras, laboratórios e hospitais também viveram uma onda de fusões nos últimos anos, aumentaram seu endividamento e agora, num cenário de juros altos, veem seus resultados comprometidos sob a pressão de apresentar logo os ganhos de eficiência perseguidos com a compra de outras empresas.
 
União de esforços - Todos no mesmo barco, prestadores de serviços e operadoras de planos estão aprofundando as conversas sobre novos modelos para tirar o setor da crise, deixando de lado a usual queda de braço. Na última semana, representantes da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), da Abramge e da Fenasaúde (que representa as seguradoras), sentaram à mesa com grandes empresas do mercado para fechar uma agenda comum, que passa por novos modelos de pagamento e melhor uso de dados para gerar eficiência de gastos e qualidade em saúde.
 
— Se, por um lado, são acordos mais complexos, na calibração de risco, de indicadores de qualidade, é mais facilmente escalável, pois não exige o capital intensivo da verticalização — explica Casarotti, que também defende uma estratégia conjunta para a incorporação de tecnologias ao setor.
 
 
Aquisições perdem força - O apetite das empresas de saúde privada por novas aquisições deve ser bem mais moderado em 2023 que nos últimos anos. Isso não significa que não caibam novas operações de consolidação no setor, onde o ganho de escala é decisivo. Foi o que moveu a fusão recente de Hapvida e Intermédica, Fleury e Pardini ou Rede D’Or e SulAmérica.
 
Agora, mais endividados e num cenário de juro alto, o que significa capital para investir mais caro, operadoras, hospitais e grupos de diagnóstico vão se ater às oportunidades.
 
— O mercado prioriza o curto prazo, e as empresas que foram às compras têm agora o desafio de integrar culturas diferentes e mostrar os ganhos dessas sinergias. Médias e pequenas empresas do setor em dificuldade podem atrair interesse — pontua Harold Takahashi, sócio da Fortezza Partener, assessoria especializada em fusões e aquisições.
 
 
— Não há soluções para resolver o balanço do segundo trimestre, mas propostas de implementação rápida em temas como desperdício, compras de medicamento, equipamentos e até fraudes. Precisamos pensar na interoperabilidade de informações no setor. Num país que tem urna eletrônica, não é mais admissível não haver um histórico médico digital— diz Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp.
 
Novos arranjos entre hospitais e operadoras para a criação de planos customizados tendem a crescer. Modelo muito comum fora dos grande centro do país, planos vinculados a um hospital oferecem um controle parecido ao obtido pelas operadoras verticalizadas, que têm rede própria. A vantagem desse modelo é não exigir desembolso de capital para aquisição de rede.
 
Guilherme Vianna, analista dessa área na Genial Investimentos, diz que os investidores têm um olhar cauteloso sobre o setor, após a expectativas frustradas de recuperação em sucessivos trimestres.
 
— Espaço para consolidação sempre tem, mas os múltiplos agora são diferentes. A compra será oportunística, o capital está caro — destaca.
 
A 26ª pesquisa Global CEO Survey da PwC, no entanto, aponta otimismo em 71% dos executivos de saúde no Brasil.
 
— As empresas estão fazendo o dever de casa de integrar de fato as empresas adquiridas, e esses ganhos vão aparecer neste ano — diz Bruno Porto, sócio da PwC.
 
Fonte: TNH1

 
 
Sindicato da Saúde Jaú e Região
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